O conceito de Gemba Walk é um dos pilares da liderança Lean. Originado no Japão, o termo Gemba significa “o local real”, ou seja, o lugar onde o valor é criado. Na indústria, isso se traduz no chão de fábrica, onde as operações acontecem e onde os problemas e oportunidades de melhoria realmente estão.
Ao realizar um Gemba Walk, o líder deixa o escritório para ver com os próprios olhos o processo, ouvir as pessoas que executam o trabalho e compreender profundamente o fluxo de valor. Essa prática, quando feita de forma correta, fortalece a cultura de melhoria contínua, aumenta a transparência e gera aprendizados valiosos.
Na essência do Lean, o Gemba representa o local onde a realidade se manifesta. É lá que o líder deve buscar entender o que realmente acontece, e não o que os relatórios mostram.
O Gemba Walk é guiado pelo princípio de “ir ver, perguntar por quê e mostrar respeito” (go see, ask why, show respect).
Isso significa que o gestor deve observar os fatos diretamente, investigar causas com curiosidade genuína e tratar as pessoas com respeito, reconhecendo que são elas que detêm o conhecimento prático sobre o processo.
Essa abordagem é o oposto da gestão distante. Em vez de cobrar resultados de longe, o líder Lean atua no local, compreendendo o sistema e apoiando os colaboradores na resolução de problemas de forma colaborativa.
Um erro comum é imaginar que o Gemba Walk é uma “auditoria”. Na verdade, o líder Lean não vai ao Gemba para fiscalizar, ele vai para aprender.
O objetivo é entender como o valor é criado e identificar obstáculos que atrapalham o fluxo.
Durante a visita, o líder deve fazer perguntas abertas, como:
“O que está dificultando o seu trabalho hoje?”
“Por que esse problema acontece com frequência?”
“O que poderia facilitar o fluxo do processo?”
Esse tipo de conversa estimula o pensamento crítico e cria confiança. Assim, o Gemba Walk se torna um exercício de aprendizado mútuo e um poderoso instrumento de engajamento e melhoria contínua.
Antes de ir ao chão de fábrica, o líder precisa saber qual o foco da observação, pode ser fluxo de valor, segurança, ergonomia, qualidade, produtividade ou outra dimensão.
Um propósito claro evita dispersão e aumenta a efetividade da visita.
A primeira ação é ver com os próprios olhos. Observe como as tarefas são executadas, os movimentos das pessoas, o uso dos equipamentos e as interações entre áreas.
Não tire conclusões precipitadas, apenas veja, escute e anote.
A escuta ativa é fundamental. Pergunte o que funciona bem, o que gera dificuldades e como as pessoas enxergam oportunidades de melhoria.
Os colaboradores são os verdadeiros especialistas do processo e, muitas vezes, já têm soluções simples que nunca foram ouvidas.
Durante o Gemba Walk, o foco é entender o processo, não culpar pessoas.
Identifique desvios, gargalos, desperdícios e causas potenciais de falhas. Registre tudo de forma neutra e baseada em fatos.
Um Gemba Walk sem acompanhamento perde o valor.
Transforme as observações em planos de ação e compartilhe os resultados com a equipe. Essa transparência fortalece a cultura de confiança e aprendizado contínuo.
Um Gemba Walk eficaz exige olhar técnico e sensibilidade humana.
Alguns pontos essenciais a observar incluem:
Fluxo de trabalho: há interrupções, esperas ou retrabalhos?
Desperdícios: transporte desnecessário, excesso de estoque, movimentação inútil, superprocessamento, defeitos, esperas e talentos subutilizados.
Segurança e ergonomia: os colaboradores trabalham de forma segura e confortável?
Comunicação visual: indicadores, instruções e padrões estão visíveis e atualizados?
Causas de paradas e anomalias: existem registros consistentes e ações corretivas ativas?
Integração entre áreas: existe fluidez entre processos ou há conflitos e retrabalhos entre departamentos?
Essas observações ajudam a criar um diagnóstico real e orientam projetos Lean de maior impacto.
O Gemba Walk vai muito além de identificar desperdícios. Ele fortalece a cultura organizacional.
Quando líderes estão presentes, escutam e respeitam as equipes, ocorre um efeito multiplicador:
As pessoas se sentem valorizadas e mais engajadas;
Os problemas são expostos com mais rapidez;
As soluções são implementadas de forma mais prática e sustentável.
O resultado é uma organização que aprende continuamente, em que a liderança atua como facilitadora da excelência operacional.
Mesmo bem-intencionado, um Gemba Walk pode falhar se conduzido incorretamente.
Alguns erros frequentes incluem:
Transformar o Gemba em auditoria: foco em apontar falhas, não em entender causas.
Falta de retorno: as equipes compartilham problemas, mas nada muda. Isso destrói a confiança.
Visitas rápidas e sem propósito: apenas “cumprir agenda”, sem profundidade.
Desrespeito à rotina de trabalho: interromper processos críticos sem planejamento.
Evitar esses erros é essencial para que o Gemba Walk seja visto como uma prática de aprendizado e não de controle.
O Gemba Walk é, antes de tudo, uma ferramenta de diagnóstico operacional. Quando bem conduzido, permite identificar gargalos de fluxo, desvios de padrão, desperdícios e falhas de comunicação entre áreas. Ele oferece dados concretos que dificilmente surgem em relatórios, porque expõe o processo em sua execução real.
Mais do que observar, o objetivo é entender a causa dos problemas e alinhar ações corretivas ao método Lean. Cada visita deve resultar em registros, planos de ação e acompanhamento, garantindo que as oportunidades observadas sejam convertidas em resultados mensuráveis.
Quando o Gemba Walk é aplicado de forma estruturada e recorrente, torna-se um mecanismo de controle e aprendizado contínuo, capaz de conectar o nível estratégico ao operacional. Ele ajuda a direcionar recursos, priorizar melhorias e consolidar decisões baseadas em fatos, sustentando a eficiência e a padronização dos processos.